Manifestações devem ajudar Lula a barrar anistia e blindagem no Senado
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Após os protestos realizados no domingo (21) contra a chamada PEC da Blindagem e o projeto de anistia, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou suas atenções para o Senado Federal, em especial para o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
As manifestações, que ocorreram em mais de 30 cidades do país, demonstraram forte rejeição popular às propostas aprovadas pela Câmara dos Deputados, obrigando o Palácio do Planalto a montar uma estratégia para impedir que o acordo costurado entre setores do Centrão e parlamentares bolsonaristas avance sem resistência.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a articulação do governo inclui construir, junto a Alcolumbre, uma narrativa pública que exponha o alto custo político de aprovar tanto a blindagem de parlamentares quanto uma anistia que possa beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apelidada nas ruas e nas redes sociais de “PEC da Bandidagem”, a proposta que exige autorização do Congresso para abertura de investigações contra deputados e senadores foi interpretada como um símbolo de impunidade — fator que impulsionou os protestos e fortaleceu a pressão sobre o Senado.
O Planalto também acionou artistas e influenciadores para reforçar a mobilização. Nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Anitta manifestaram-se contra o perdão aos condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e às mudanças que poderiam ampliar as prerrogativas de parlamentares. Essa adesão cultural ajudou a transformar a manifestação em um movimento de massa e ampliou o debate para além do ambiente político.
Crise no Congresso
Na Câmara, a aprovação inicial da PEC gerou desgaste para o governo, especialmente porque 12 deputados do PT votaram favoravelmente ao texto, criando uma crise interna na legenda. O episódio revelou fragilidades da estratégia de negociação: enquanto o Centrão buscava blindagem contra investigações sobre emendas, os bolsonaristas pressionavam pela anistia.
O resultado foi a aceleração das duas pautas, mas também uma forte reação popular, que hoje dificulta a tramitação no Senado. Em sessão recente, Alcolumbre demonstrou preocupação com o impasse:
“Estamos com muitos problemas ao mesmo tempo. Há quem ameace obstruir as votações 24 horas por dia e há quem se recuse a analisar projetos por causa de debates paralelos, como os do Judiciário, pedidos de impeachment de ministros do Supremo ou a questão da anistia. Está impossível contornar situações como essa. Estamos sendo atropelados desde a última eleição”, declarou.
Divergências jurídicas e políticas
No campo jurídico, o relator da proposta sobre penas, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), rebatizou o texto como “PL da Dosimetria” e afirmou que a intenção é reduzir penas para pacificar o país. “Se isso vai beneficiar Bolsonaro, é outra história. Não farei projeto para afrontar o Supremo Tribunal Federal”, destacou.
Já o advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas, classificou a manobra como um “escárnio”:
“Estão fazendo uma espécie de anistia com botox. Mudaram o nome para suavizar o que não pode ser suavizado”, criticou.
O episódio também expôs fissuras dentro do PT e enfraqueceu a confiança do Planalto em interlocutores da Câmara. Diante disso, Lula intensificou o diálogo com Alcolumbre, numa tentativa de preservar a governabilidade e reduzir o desgaste político.
Enquanto isso, a direção do União Brasil endureceu o discurso e chegou a dar ultimatos a integrantes do partido que ocupam cargos no Executivo, sinalizando o aumento da influência do Senado nas negociações.
No núcleo bolsonarista, o tom foi de pressão. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, avisou que a bancada não aceitará uma “meia-anistia” e ameaçou obstruir votações caso a proposta ampla seja descartada. A ameaça de paralisação agrava o cenário de tensão no Congresso e pode comprometer a tramitação de outras matérias consideradas prioritárias pelo governo.
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