A Escola Brasileira e a Máquina de Produzir Idiotas Por Prof. Dr. Rodolfo Fiorucci
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Começo com uma afirmação tão polêmica quanto verdadeira: a escola brasileira, pública e particular, é uma máquina de produzir idiotas em série. Calma, não me cancelem no primeiro texto. Entendam que o termo “idiota” é tomado aqui na concepção grega do período clássico, cujo significado é o da pessoa voltada para si e incapaz de pensar de forma mais ampla, complexa e coletiva. Daí vem a ideia de “Id” na psicanálise, que é o “eu” mais primitivo, voltado para suas necessidades e prazeres imediatos. Já a palavra grega idiṓtēs significa aquele voltado para as coisas privadas em detrimento das públicas, o que era considerado inútil na sociedade ateniense.
O idiota na Atenas antiga era proibido de participar da política, pois essa é a instituição basilar da vida pública, onde, em tese, discute-se as questões da Pólis, os problemas coletivos e as soluções sociais. Sendo assim, um sujeito que não tem a capacidade de olhar para além do seu umbigo deve ser interditado na política, pois não passa de um idiota.
Nas sociedades contemporâneas, cuja individualidade é vista não como sinal de egoísmo, mas de virtude, no qual cada sujeito é um capital humano que deve ter capacidades empreendedoras para valorizar seu ativo no mercado de trabalho humano, o idiota venceu. Hoje, desde a mais tenra idade nos círculos familiares, passando pela formação religiosa e escolar, o indivíduo é moldado para ser um “vencedor”, cuja métrica de sucesso se limita a medir a quantidade de dinheiro que esse sujeito é capaz de produzir para usufruto privado.
Nessa batalha de gladiadores contemporâneos, ignoram-se as brutais diferenças e desigualdades historicamente produzidas e colocam a todos na mesma arena de batalha, embora para cada qual se ofereça armas completamente diferentes. Enquanto a maioria luta com as mãos e outra grande quantidade se vale de estilingues, a ínfima minoria, aquela que se conta com os dedos das mãos, porta metralhadoras .50 e atira de uma torre blindada. No final, o vencedor recebe os louros e os prêmios por seus méritos totalmente “individuais”; assim produz-se a meritocracia, afinal, todos têm as mesmas 24 horas, não é mesmo?
O mais triste é que nas escolas esse ideal e esses valores são reproduzidos como naturais e benéficos. Mas isso é feito não ensinando a produzir “metralhadoras” (óbvio que isso é uma metáfora) e táticas de luta na arena de batalha, para que se produza uma competição mais justa, mas, pelo contrário, as escolas fingem que não há armas diferentes, ou que basta esforço e vontade para que estilingues vençam metralhadoras. E toda e qualquer disciplina que tente demonstrar aos plebeus que eles estão em situação insuperável de desigualdade e exploração é vista e apontada como subversiva, como doutrinação e como uma afronta aos césares romanos.
E pior: os plebeus assumem essa visão e lutam contra qualquer tentativa que busque demonstrar a eles que mesmo se o dia tivesse 48 horas eles não venceriam, com estilingues, metralhadoras que atiram de torres. Assim, na produção da crença de que todos podem obter sucesso (basta esforço), que é reproduzida nas escolas e outras instituições sociais, cria-se o sujeito alienado e idiota, que em vez de se juntar com outros plebeus para derrubar a torre, fica cada um tentando morrer mais tarde que o outro. Ou, para aqueles com menos virtude, oferecem-se aos gladiadores da torre como instrumentos de perseguição e controle dos seus irmãos plebeus, para que obtenham alguma esmola da torre.
Não é à toa que a educação perde cada vez mais valor social e seus educadores também. A escola há séculos promete que esforço, obediência, trabalho duro e dedicação vão garantir o sucesso pelo mérito. Há séculos o sucesso não vem. Como a escola não explica que o sucesso é inviável na luta de estilingues contra metralhadoras, a culpa passa a ser dela própria, acusada de ineficiente e incapaz. Isso é um campo aberto para oportunistas enriquecerem à medida que idiotas são formados, vendendo cursos, palestras e mentorias que fazem as pessoas acreditarem que da matéria-prima de estilingues podem produzir torres e metralhadoras, basta mudar o mindset de escassez.
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