Unesp Ourinhos: Estudo aponta resiliência das águas subterrâneas da Bacia do Paranapanema mesmo em períodos de seca

Compartilhe

Uma pesquisa liderada por cientistas da Unesp de Ourinhos revelou que as águas subterrâneas da Bacia do Paranapanema demonstram notável resiliência mesmo diante de longos períodos de estiagem. O estudo utilizou, de forma inédita, uma combinação de dados obtidos por satélites com informações de campo para analisar o comportamento dos aquíferos da região entre os anos de 2003 e 2020.

A pesquisa foi conduzida pelo professor Rodrigo Manzione, da Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação (FCTE) da Unesp Ourinhos, com participação da mestranda Carolina Brizotti. O trabalho faz parte do Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado Profissional), desenvolvido em parceria com os comitês de bacias hidrográficas da região. Os dados foram obtidos por meio do projeto GRACE — uma colaboração entre a NASA e o Centro Aeroespacial Alemão — e publicados na revista científica Groundwater for Sustainable Development.

Impactos climáticos e a busca por segurança hídrica

O agravamento das mudanças climáticas tem alterado os padrões de chuvas em todo o país. A Bacia do Paranapanema, que abrange os estados de São Paulo e Paraná, é uma das regiões que vêm sofrendo com estiagens mais prolongadas nos últimos anos. Em resposta à escassez, aumentou o número de perfurações de poços, muitas vezes clandestinos, gerando conflitos pelo uso da água subterrânea.

Com uma área superior a 100 mil km² e forte presença agrícola e hidrelétrica, a região também viu sua população crescer em mais de 1,6 milhão de habitantes entre 2010 e 2022, conforme dados do IBGE. Esses fatores impõem pressão adicional sobre os recursos hídricos locais.

Satélites ajudam a mapear aquíferos e avaliar estabilidade

A inovação do estudo esteve na utilização de dados gravitacionais do projeto GRACE para mapear áreas com maior ou menor armazenamento de água subterrânea. Regiões com maior resiliência foram denominadas hotspots, enquanto as áreas mais vulneráveis receberam o nome de coldspots. A análise revelou que, apesar da seca e da intensificação da exploração dos recursos hídricos subterrâneos, não houve quedas significativas nos níveis de água em aquíferos como Guarani, Bauru e Serra Geral.

Segundo Manzione, as regiões de cabeceira, com menos urbanização e mais vegetação nativa, apresentam maior capacidade de armazenamento. No entanto, o pesquisador destaca que isso não representa, necessariamente, maior disponibilidade hídrica, mas sim potencial para uso estratégico.

Planejamento e integração de dados: o caminho para o uso sustentável

A principal contribuição do estudo, segundo seus autores, é o fortalecimento da ideia de que as águas subterrâneas devem ser incorporadas de forma estratégica e integrada à gestão pública, não apenas como solução emergencial em tempos de crise.

“Se você trata a água subterrânea como última opção, acaba usando-a de forma descontrolada. Ela precisa ser incorporada de maneira inteligente aos sistemas de abastecimento, combinando com a água superficial, conforme as condições de qualidade e disponibilidade”, explica Manzione.

A pesquisa reforça a importância de integrar informações dos aquíferos aos planos de bacia hidrográfica, conforme previsto na legislação brasileira, o que ainda não é feito de forma sistemática. A metodologia adotada, com análise espaço-temporal, já é comum em áreas como a epidemiologia, mas ainda pouco aplicada à hidrologia no Brasil.

Água subterrânea: recurso estratégico e invisível

O professor destaca que, embora a tendência de longo prazo não indique colapso iminente, há sinais de declínio gradual que merecem monitoramento constante. “A boa notícia é que temos ferramentas e dados para isso. Mas é preciso institucionalizar esse acompanhamento e transformá-lo em política pública”, afirma.

Ele também alerta para os riscos do uso descoordenado da água subterrânea, como a subsidência do solo (afundamento) e a contaminação, especialmente em áreas onde os aquíferos são mais frágeis. “A água subterrânea é um tesouro regional. Não pode ser a bala de prata de gestores despreparados. Esse recurso deve ser usado com parcimônia, com base em dados e planejamento técnico.”

A pesquisa desenvolvida em Ourinhos se soma a outros projetos do grupo de pesquisa da Unesp que visam entender o comportamento dos aquíferos em diferentes contextos geográficos, como em Manaus. A conclusão comum é clara: a chuva é o principal fator de recarga e a gestão integrada dos componentes do ciclo hidrológico é essencial para garantir a sustentabilidade do recurso.

Conclusão

Estudos como esse, desenvolvidos em Ourinhos, mostram como a ciência pode contribuir diretamente para a formulação de políticas públicas mais eficazes e baseadas em evidências. A água subterrânea, embora invisível, é essencial para o futuro da segurança hídrica do país.

📸 Na imagem: Hidrelétrica de Chavantes, no rio Paranapanema, entre os estados de São Paulo e Paraná.
📷Crédito: Raylton Alves/Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico

📚 Fonte: Jornal da Unesp – https://jornal.unesp.br/

Apoie o Ourinhos.Online⬇️
https://apoia.se/ourinhosonline

Editor Ourinhos Online