Talentos

Talentos devem ser acariciados e receberem todo o amor, pois são dádivas, presentes; são divindades trazidas para serem postas em prática. Há vocações latentes que gritam clamando desenvolvimento. Há quem as sufoquem.

Me deixei levar pela escrita quando senti que meus gritos internos ensurdeciam e me inquietavam. A alma mandava – e pedia – que eu me escutasse, que me desse caneta e paixão. A criatividade, seja ela qual for, independentemente da origem, razão e emoção advindas de um cérebro que pensa constantemente o que, como e quando racionalizar (pois sua tarefa, infelizmente, é fazer da emoção cinzas ao vento), ordenava e ainda ordena que eu me ponha à disposição para, suavemente, criar.

A arte sempre foi a natureza intrínseca que me carregou nos braços – talvez eu também, involuntariamente, a tenha carregado. Ser artista não ressoa rebeldia, mas soa aceitação. O dom não está na pintura, na dança, no teatro, nas belas escritas: está na constante construção do artista em cada obra, que consoante seu talento e dedicação, tomou forma e agraciou quem aprecia o quão belo pode ser servir ao que há de mais sagrado em quem se deixa ouvir, mesmo negando sua verdade; seu propósito enquanto parte de um exímio grupo à parte que nem todos conseguem compreender.

O artista apenas cresce quando se olha e se deixa produzir. Páginas em branco, palco vazio, música cantarolada ao cair da solidão não fazem o mundo girar em torno de si mesmo – e, especialmente, ao redor da vida, que tímida, necessita de quem se permite escutar. Talentos não podem ser guardados em gavetinhas racionais ou expostos nas emoções coadjuvantes entre uma e outra escolha que nos cabe. Deveras sutil, deveras amargo, áspero ou incoerente, é preciso cuidá-lo, embora ele chegue como um tsunami que leva toda e qualquer verdade absoluta ao seu devido lugar.

O talento tomará vida enquanto houver alguém que dela faça um caminho, mesmo que paralelo. Não há condenação em seguir trajetos nos quais somos medíocres, pois a desvalorização da arte espanta, amedronta e entristece.

Não há julgamentos quando fugimos de nossas paixões, pois creio que o artista e sua vocação não estão preparados para “ensurdecerem”.

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Paula Hammel