Nomeação de ex-prefeito cassado revela contradições no governo Guilherme Gonçalves

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Por Ourinhos.Online

A recente nomeação de Sandro César Caprino, ex-prefeito cassado de Paulínia, para o cargo de secretário-adjunto de Educação de Ourinhos, reacende o debate sobre a coerência entre discurso e prática da gestão do prefeito Guilherme Gonçalves (Podemos). A decisão não apenas contraria promessas eleitorais de valorização dos profissionais ourinhenses, como também levanta preocupações éticas e administrativas diante do histórico político e judicial do novo adjunto.

Histórico controverso e sem vínculo com a Educação

Sandro Caprino, de 54 anos, jamais teve atuação destacada na área educacional. Ao contrário, sua trajetória é marcada por passagens em cargos comissionados e episódios polêmicos. Em 2017, teve o mandato de vereador cassado por abuso de poder econômico, decisão confirmada posteriormente pelo TRE-SP e pelo TSE. Dois anos antes, em 2015, já havia sido alvo de uma ação de improbidade administrativa quando, na condição de presidente da Câmara de Paulínia, assumiu por apenas dois dias a prefeitura e autorizou gastos superiores a R$ 17 milhões em contratos e empenhos sem urgência comprovada.

O caso ainda tramita na Justiça e, segundo decisão do juiz Carlos Eduardo Mendes, o então prefeito interino extrapolou os limites legais de sua função. Para o magistrado, o gasto só seria justificável em situações emergenciais envolvendo saúde, educação ou saneamento básico – o que não ocorreu.

Carreira marcada por cargos políticos e vínculos religiosos

A nomeação de Caprino em Ourinhos é apenas mais um capítulo em uma longa trajetória de cargos públicos ocupados por nomeações políticas. Desde 1999, ele já atuou como assessor parlamentar em diferentes gabinetes estaduais e federais, foi vereador e prefeito interino em Paulínia, e passou por cargos comissionados em Ourinhos desde 2023 – inclusive durante a gestão Lucas Pocay, quando esteve à frente da Secretaria Adjunta da Mulher e da Família e depois na Secretaria de Gabinete.

Mais recentemente, em janeiro deste ano, foi nomeado como diretor de Orçamento e Planejamento da Prefeitura de Jacarezinho (PR), cargo que ocupou por apenas quatro meses, sendo exonerado em abril. Poucos dias depois, retornou à cena política de Ourinhos com a nova nomeação na Educação.

Caprino também mantém fortes ligações com a ala evangélica conservadora, em especial com parlamentares da Igreja Universal e da Assembleia de Deus, como Celso Russomanno e Cezinha de Madureira. Em suas redes sociais, se apresenta como “Obreiro Sandro Caprino”.

Educação sob influência política e ideológica

A nomeação de Caprino sinaliza uma mudança clara no perfil da gestão da Educação em Ourinhos. Em fevereiro, a servidora de carreira Carmem Lúcia Pereira Machado, com mais de 30 anos de experiência na área, deixou o cargo de secretária municipal após apenas dois meses. Desde então, a pasta passou a ser comandada por Rodrigo Mendes – professor e ex-candidato a vereador pelo PDT, integrante da coligação de Guilherme Gonçalves em 2024 – e agora por Caprino como adjunto.

A substituição de uma técnica respeitada por figuras com vínculos políticos escancarados expõe o processo de partidarização de uma das áreas mais sensíveis da administração pública. A nova configuração da Secretaria de Educação mistura pragmatismo eleitoral com afinidades religiosas, deixando em segundo plano a formação técnica e a experiência na área.

Do discurso à prática: promessas abandonadas

Durante seu mandato como vereador e ao longo da campanha de 2024, Guilherme Gonçalves se destacou por discursos duros contra a importação de nomes de fora para cargos estratégicos. Prometeu montar um governo com profissionais locais, com reconhecimento e experiência. Mas, até agora, a prática tem sido outra.

Além de Caprino, a gestão Guilherme já nomeou outros políticos de fora da cidade para cargos de confiança:
• Álvaro “Kaká” Costa: ex-vereador de Ferraz de Vasconcelos, ocupou a Secretaria de Governo por quatro meses;
• Diego Singolani: ex-prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo, comanda a Secretaria da Saúde;
• Kleber Arruda: ex-secretário de Administração de Louveira, hoje é adjunto da Administração;
• Arexandre Ledo: coronel aposentado da PM de Marília, atua como secretário de Segurança Pública.

Essas escolhas configuram uma guinada política que contraria abertamente os compromissos assumidos com o eleitorado ourinhense.

Uma gestão cada vez mais alinhada à extrema direita

Para além das incoerências administrativas, o governo Guilherme Gonçalves começa a dar sinais de um alinhamento ideológico mais definido. O prefeito tem demonstrado entusiasmo por modelos como o das escolas cívico-militares e permitido a crescente influência de denominações religiosas sobre a estrutura pública municipal – especialmente na educação.

A nomeação de Caprino fortalece essa tendência: sua atuação pública e vínculos religiosos evidenciam a presença cada vez maior de uma pauta moralista e conservadora no coração da política educacional da cidade.

Conclusão: entre conveniências e princípios

Ao nomear um ex-político com histórico de cassação, sem experiência educacional, e sem raízes em Ourinhos, Guilherme Gonçalves reafirma que o peso das alianças políticas tem prevalecido sobre os compromissos com a cidade e com a gestão técnica. A Educação, que deveria ser conduzida com responsabilidade e competência, hoje se vê submetida a interesses partidários e ideológicos.

A população ourinhense, que depositou confiança em um projeto de valorização local e responsabilidade administrativa, agora assiste à construção de um governo onde a prática parece cada vez mais distante da promessa.

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Editor Ourinhos Online