Documento do Papa Leão 14 consagra a Teologia da Libertação e reafirma fé comprometida com os pobres
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Por Frei Betto — Fonte: ICL Notícias
A nova Exortação Apostólica Dilexi Te (“Eu te amei”), do Papa Leão 14, chega como um sopro de esperança e um marco histórico para a Igreja Católica. O documento reafirma a Teologia da Libertação — corrente teológica nascida na América Latina — e declara que a fé cristã não pode ser separada do amor concreto, da justiça social e da transformação das estruturas que geram miséria e exclusão.
No Brasil, país onde a desigualdade social tem rosto, cor e território, Dilexi Te é recebida como confirmação e estímulo para a caminhada das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e dos movimentos populares.
A fé que se faz compromisso
Em sua exortação, o Papa Leão 14 rejeita a ideia de que a pobreza é uma fatalidade ou resultado de falta de mérito. Ele escreve:
“Os pobres não existem por acaso ou por um cego e amargo destino. Muito menos a pobreza é uma escolha para a maioria deles. (…) Não podemos dizer que a maioria dos pobres está nessa situação porque não obteve méritos, de acordo com a falsa visão da meritocracia.”
O documento ecoa a tradição latino-americana inaugurada em Medellín (1968) e Puebla (1979), reafirmando a opção preferencial pelos pobres como exigência da fé.
“Deus é amor misericordioso, que se preocupa com a condição humana e, portanto, com a pobreza.”
Contra a “economia que mata”
Leão 14 denuncia a “ditadura de uma economia que mata” e lembra que, no Brasil — o maior país católico do mundo —, 1% da população concentra quase 30% da riqueza nacional, enquanto milhões ainda enfrentam fome e falta de moradia.
Inspirado por Santo Agostinho, o Papa recorda:
“Não é de tua propriedade aquilo que dás ao pobre; é dele. Porque tu te apropriaste do que foi dado para uso comum.”
Teologia da Libertação: fé viva e transformadora
Dilexi Te reconhece a pobreza como fruto de estruturas injustas — racismo, patriarcado, latifúndio, exploração ambiental e desigualdade econômica — e convoca cristãos e comunidades a agir de forma concreta para transformar essa realidade.
“Não se trata de levar Deus aos pobres, mas de encontrá-Lo ali.”
O documento valoriza movimentos sociais e populares, como o MST, MTST, centrais sindicais e pastorais sociais, como expressões vivas do Evangelho.
“A solidariedade é uma forma de fazer história — e é isto que os movimentos populares fazem.”
Uma Igreja em saída
Leão 14 propõe uma Igreja que vá além da assistência e se envolva nas causas da pobreza, promovendo uma fé que se traduz em luta por direitos, justiça e dignidade.
“A Igreja deve colocar-se ao lado dos pobres e empenhar-se ativamente pela sua promoção integral.”
Essa “promoção integral” inclui acesso à cultura, à educação, à moradia, ao trabalho digno e à participação política.
“Eu te amei”: amor que liberta
Mais que um documento, Dilexi Te é um chamado à ação pastoral e social. Convida a Igreja a “sair das sacristias” e caminhar com o povo — especialmente com os pobres, indígenas, negros e trabalhadores.
“A opção preferencial pelos pobres gera uma renovação extraordinária na Igreja e na sociedade quando somos capazes de ouvir o seu clamor.”
Para Frei Betto, a exortação confirma que o amor cristão é revolucionário, pois não aceita a miséria nem a exclusão.
“Ser cristão, à luz dessa Exortação, é estar do lado dos pobres — não por ideologia, mas por fidelidade a Jesus, o Pobre de Nazaré.”
Frei Betto é escritor e autor da tetralogia sobre os Evangelhos — “Jesus Militante” (Marcos), “Jesus Rebelde” (Mateus), “Jesus Revolucionário” (Lucas) e “Jesus Amoroso” (João) —, publicada pela Editora Vozes, entre outros livros.
📖 Fonte: ICL Notícias
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