AS ÁRVORES DA ESCOLA RACANELLO

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Mais uma vez Ourinhos se supera no quesito destruição do próprio patrimônio ambiental. O episódio do corte das árvores na calçada e no pátio da Escola Racanello, sintetizam o despreparo e o descompromisso de pessoas com poder de decisão para tratarem das questões ambientais, que afetam a toda a população.
A cidade que perde mais da metade da água extraída do Rio Pardo e tratada, antes de chegar nas casas de seus cidadãos, a cidade que não trata o esgoto que gera, que joga esse esgoto in natura em todos os seus córregos urbanos e nos dois rios que por ela passam; a cidade que teve enxurradas que arrastaram e mataram duas cidadãs, uma no córrego Monjolinho e outra no córrego Christoni, há alguns anos, por falta de manejo adequado das águas pluviais. A mesma cidade que tem processos erosivos em vários locais devido à falta de manejo da água das chuvas, a cidade que não tem plano diretor de drenagem urbana, que não tem pontos de coleta de resíduos de construção civil, e que tem cada vez menos árvores nas calçadas, é a cidade onde uma escola corta as árvores do seu pátio e da calçada da rua em frente a ela, com a complacência da secretaria da educação. Talvez isso explique porque temos tantos problemas ambientais.
Uma secretaria da educação e uma escola onde imagina-se que a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/1999) seja considerada e observada nas suas atividades de ensino. Até porque essas atividades são exigidas nas bases curriculares que norteiam as atividades escolares em nosso país, em nosso estado e no nosso município. Será que a legislação não é cumprida em Ourinhos? Ou há problemas na compreensão dos conceitos nela contidos?
​Essas questões surgem a partir do corte de árvores, a maioria delas com sanidade suficiente para serem manejadas e tratadas a fim de manter seus benefícios à comunidade escolar. E daí deriva a pergunta: e se ao invés de simplesmente cortar as árvores, elas tivessem sido usadas para ensinar educação ambiental na prática? Ensinar aos estudantes como avaliar, como cuidar, como adequar, e até como substituir as que apresentavam riscos. A escola e a secretaria de educação perderam uma ótima oportunidade de melhorar a formação cidadã, de uma geração capacitada para o convívio equilibrado com a natureza e não para a destruição do que ainda resta. A lição que deram às crianças e à comunidade é de que se uma árvore tem ou causa algum problema, basta cortá-la, desconsiderando todos os benefícios que trazem e até mesmo as leis que tratam do tema.
As duas sibipirunas de fato estavam ocas e apresentando riscos. Então precisavam ser substituídas. E isso poderia ser executado envolvendo a comunidade escolar, ensinando aos discentes como proceder com árvores senis e como substituí-las por indivíduos arbóreos jovens, saudáveis e adequados ao local. As demais árvores, poderiam ser manejadas visando a sua manutenção. As internas ao pátio, com pequenos ajustes em suas copas poderiam permanecer. As da calçada, que é pública e não propriedade da escola, levantavam o concreto porque não tinham mais espaço para seu tronco se desenvolver, e devido à concretagem excessiva, tentavam acessar água e ar, elevando seu sistema radicular. No caso destas, bastaria ampliar o espaço-árvore (berço), que o problema estaria resolvido.
Estas árvores, além de todos os benefícios que as árvores trazem para as pessoas e cidades, estavam em posição estratégica que sombreava partes da escola no período da tarde, que é o mais quente, principalmente no verão. E, em uma época da história em que as mudanças climáticas e a elevação das temperaturas se mostram cada vez mais intensas, a sombra das árvores poderia fazer a diferença positiva para a melhoria das tarefas de ensino-aprendizagem.
Agora só sobraram tocos, descrédito e desesperança. Como tem sido comum em nossa cidade.
Mas, esperamos que as gestões da escola e do município mostrem que já tinham um plano para a reposição de todas as árvores (como é exigido na legislação municipal de Ourinhos – Decreto 7.178/2019, Lei 5.526/2010, Lei Complementar 1.142/2022, entre outras). E que esta reposição seja feita com espécies adequadas e nas condições adequadas para que cresçam sadias. Isso poderá mudar a compreensão do fato e nos permitirá dizer que as gestões não eram despreparadas, mas sim, que foram incompreendidas ou que se comunicaram mal.

Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Líder do Grupo de Pesquisa Segurança Hídrica
Universidade Estadual Paulista – UNESP

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Editor Ourinhos Online