A casa da gente.
Minha casa, meu lar. É lá que gosto de ficar. Quando dela saio, pensamentos me chegam: que horas são? Pra casa preciso voltar. Pode ser mentirinha pra escapar da folia, dos amigos, das boas companhias. Mas a grande verdade, é que sair de casa e tê-la para retornar, é imensa satisfação. Por mais que seja simplória, é nossa. Ainda que esteja caindo, suplicando por reformas, aquele lugar nos pertence. Ele tem uma energia própria, que vibra nas paredes dos cômodos, nos móveis, nas portas e janelas que deixamos ou não abertas para a luz entrar. Ela é abrigo, refúgio; testemunha ocular e ouvidos. É sinal verde para quem nela deixamos entrar; é alerta indicativo de perigo para quem nela muito se demorar. Quem é bem-vindo, se contenha: você foi escolhido para não desvendar os mistérios de quem e o que habita aquele lugar. A casa da gente não é descarada, não se aconchega em cinismos, não conta o que não disse e nada diz sobre o que ali aconteceu. Ainda que bagunçada, empoeirada e cheia de tralhas, ela se cala. Falar demais é coisa de gente, não de morada. Há quem tenha apreço por decoração, limpeza e organização. Há quem se apegue nas memórias pintadas em fotos, em gavetas não tão lacradas pelas lágrimas de perdas, pelos perdões imperdoáveis que não demos ou por tolos arrependimentos que poderiam ser desfeitos se nos deixássemos ser, verdadeiramente, lar. Há quem afirme que somos o espelho do lugar que habitamos. Afirmo eu, que o espelho reflete aquilo que deixamos de enxergar. Pessoas organizadas, disciplinadas e com roupas perfumadas, não perfumam o ambiente que vivem, não o organizam, não o limpam com o mesmo afinco que cumprem tarefas que são e sempre serão prioritárias. Existem reis em tambores de lixo, tamanha sua toxicidade e sujeira interior. Moram em “mansões” os que quase nada possuem e amam o pouco que tem. Existe zelo, capricho e cuidado nas casinhas de barro que delas a gente foge pra não se “culpar”. Há preciosidades num único cômodo que seu morador faz questão de aos outros mostrar. A inveja, nesse caso, saltou da mansão e voltou ao seu devido lugar. Sinônimo de lar verdadeiro é a prece que sempre agradece ter casa aonde voltar.
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