Nomofobia abraçada pela Guerra Híbrida – Por Pedro Saldida
Nomofobia é o medo irracional, ilógico de ficar sem o seu celular, ou ser impedido de o usar por um qualquer motivo, seja ausência de bateria, ou conexão fraca de acesso à internet. Pois bem esta nova palavra do dicionário, esta nova definição de fobia nos foi implementada pela Guerra Híbrida; a Guerra Híbrida é uma estratégia militar que reúne táticas de guerra política, guerra convencional, guerra irregular e ciberguerra. A Guerra Híbrida é combatida em 3 frentes no campo de batalha, no epicentro da zona de conflito populacional, na porta de casa da população e na comunidade internacional, e tem como armamento as ferramentas de informação modernas e a mobilização de massas. A Guerra Híbrida manipula os espaços de informação, lança ataques aos alicerces críticos, e esta guerra consegue inclusive interferir em eleições, como o que presenciámos na eleição de 2016, nos Estados Unidos, em que a Rússia criou bots para reduzir as chances de Hillary Clinton contra Donald Trump.
A acrescentar a estas ferramentas temos também a desinformação, a divulgação em massa intencional de narrativas falsas, para que um determinado setor da nossa sociedade obtenha vantagens, atingindo um nicho específico da população.
Os ataques híbridos não são conhecidos pelo barulho do disparo de uma arma de fogo, são mais silenciosos, mais penetrativos e deixam o mínimo de rastros por quem os pratica, para que seja difícil achar os responsáveis.
Podemos considerar como das mais letais ferramentas da Guerra Híbrida a desinformação, a diplomacia, o lawfare( uma forma de Guerra na qual o Direito é usado como arma contra inimigos) e intervenção eleitoral externa. As Guerras Híbridas são árduas e de longo período, de longo prazo, têm a capacidade de desafiar a lógica interna de pesquisas, de sondagens de opinião e ciclos eleitorais; para seu combate é exigida uma resposta profundamente adaptável e deve ser construída em torno da resiliência.
No epicentro desta Guerra Híbrida temos Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, e Elon Musk. A agenda política destes senhores é tudo menos democrática. Elon Musk luta silenciosamente e calmamente para derrubar Democracias, principalmente na Europa.Esta Guerra se dá pelas redes sociais, de uma forma que nunca nos apercebemos, tão simples porque a Meta, que reúne Instagram e Facebook, tem 40% da humanidade como assinante, estamos falando de 3 mil milhões de pessoas.
Os três têm algo em comum, não pagam impostos, vejam como são construídas suas fortunas; Meta e Amazon controlam 80% da publicidade online, e todos os outros meios de publicidade no Mundo são controlados em 50% por eles, isto leva a que haja ameaça para as Democracias, e para o Jornalismo livre, sério e honesto.
As grandes marcas dos anunciantes nem se preocupam, ou preocuparam com a guerra híbrida, até porque Meta e Amazon vendem dados dos utilizadores, aí está hoje sua grande fonte de rendimento.
A meu ver esta mesma Guerra Híbrida abriu uma porta muito mais assustadora; abriu a porta para políticos demagogos e populistas. Esta cratera aberta nas redes sociais nos mostrou que saíram debaixo da terra esses seres com discursos e ações voltadas para eleitores inexperientes, despreparados, descontentes, e que nem um ato de hipnose os leva a votar em massa com base em discursos passionais, esquecendo sempre da capacidade racional, ou escolhas pensadas e ponderadas. Na Grécia Antiga o demagogo estava encarregado de falar por aqueles que estavam excluídos das decisões políticas. O populismo se espelha na busca pela simpatia das classes sociais mais baixas, fingindo defender seus interesses, invocando medidas paternalistas e assistencialistas.
A política é regida pelo bem comum sempre, o político deve propor mudanças para um futuro melhor sempre, mas se falarem em sacrifícios no presente, sofrem contestação, então surgem os verdadeiros charlatões, aqueles que se movem, que discursam para angariar mais apoios, mais defensores.
O populista despreza e nega os fatos e a realidade, o populista apela diretamente ao povo, ao invés de apelar ao processo político. O populista, em vez de abraçar as características definidoras de um governo representativo, liberal, democrático, constitucional, exalta a supremacia da sua relação direta e íntima com a população.
O populista é o demagogo que incendeia as massas com seus discursos inflamados que essas mesmas massas anseiam e clamam, e esses mesmos demagogos e populistas usam as redes sociais como seu quintal, seu quarteirão, sua rua. O Governo, a Gestão vira o Governo das redes sociais e não um Governo Representativo, e em vez de ter apoiantes, de ter votantes, eleitores, tem reacionários analógicos( que pensam igual).
Gostaria que este texto servisse de base para uma profunda reflexão já que ao invés de discutirmos políticas públicas estamos discutindo demagogia e populismo.
Hoje, diferentemente das outras crónicas, não vos deixo com uma frase de algum pensante famoso, mas quero deixar um pronúncio de um Deputado de Portugal, que me deixa efetivamente pensante e errante quanto ao caminho que estamos percorrendo.
“Quem precisa da política para viver nunca será um político verdadeiramente livre…Quem nunca fez nada antes de entrar na Política e não espera fazer nada para além da política, dificilmente será um político competente”.
Pedro Saldida
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