A morte, a cada dia, é apenas o avesso de mais um renascimento. – Por Paula Hammel

Após o turbilhão das contradições em que as sombras da alma se entrelaçam com os vestígios do caos, é possível vislumbrar, mesmo que tênue, a fagulha da ressurreição. Quantas vezes, na sinfonia desgarrada da existência, morremos sem perceber que a morte, ela mesma, é apenas o avesso de um renascimento iminente? Viver, então, não é senão essa constante dança entre o efêmero e o eterno, onde cada segundo, como um fio de ouro, nos entrelaça ao divino mistério do ser.

Há uma sabedoria oculta no aniquilamento daquilo que acreditamos ser, pois, ao destruir as falsas certezas, revela-se a essência que, há muito, se ocultava nas sombras do querer. Somos, porventura, criaturas destinadas à dissipação, ou seríamos apenas sementes que, ao morrer, renascem para outras paisagens?

Eis o paradoxo da vida: a morte que se faz presente a cada amanhecer, a cada respirar, a cada tentativa infrutífera de domínio sobre o que é incontrolável. O caos, então, se revela como uma necessidade – não um obstáculo, mas um convite para a transcendência, um chamado para que aceitemos o abismo com a certeza de que nele, no fundo, habita a possibilidade de uma nova aurora.

Refletir sobre o ser é um risco, é verdade. Perder-se nos próprios labirintos é um preço a ser pago pela ousadia de reconstruir-se. Talvez, na verdade, estejamos todos, em alguma medida, já mortos e, ao mesmo tempo, em perpetuado renascimento, como o rio que, ao romper suas margens, se reinventa na quietude das águas que nele se lançam.

Paula Hammel

Apoie o Ourinhos.Online⬇️
https://apoia.se/ourinhosonline

Share this content:

Editor Ourinhos Online