A história de um defensor da tortura e da ditadura que se travestiu como paladino da liberdade

Compartilhe

O Brasil realmente não é para iniciantes. Aqui, já se viu de tudo: uma constituição monárquica com quatro poderes; uma ditadura com rodízio de presidentes e eleições indiretas. E agora, testemunhamos um ex-presidente, condenado por tentativa de golpe, que passou décadas exaltando a tortura, glorificando a violência e tratando os direitos humanos como “coisa de bandido”, posar como defensor da liberdade e dos direitos que sempre desprezou.

É evidente que sua ideia de “liberdade” e “direitos humanos” é bastante seletiva, interessa apenas quando lhe convém, quando serve à sua autopreservação política ou à manipulação de massas. Ainda assim, talvez seja esse o momento oportuno para pensar seriamente sobre o que significa liberdade. Palavra tão usada pelos autoritários de ontem e tão essencial à democracia de hoje.
Afinal, que “liberdade” é essa que o golpismo da extrema direita clama? É a liberdade de expressão ilimitada, transformada em licença para espalhar mentiras, fomentar o ódio e intimidar a democracia. Uma “liberdade” que, se levada às últimas consequências, legitima até mesmo crimes sob o pretexto de opinião, como a defesa da pedofilia ou incitação ao assassinato. Qualquer pessoa minimamente consciente percebe que isso não é liberdade, é barbárie. Mas para a extrema direita, liberdade é um disfarce: não para garantir a sua e a minha, mas para proteger os próprios interesses e manter vivo o projeto de desmonte institucional.
E a liberdade defendida por quem acredita na democracia, qual é? É, sim, a liberdade de expressão, mas com responsabilidade, dentro da lei, preservando os direitos coletivos, a dignidade humana e os pilares civilizatórios. E vai além: como lembra Amartya Sen, liberdade real exige que cada pessoa tenha condições concretas de decidir como viver, quem ser e o que fazer da própria vida, com dignidade, saúde, educação, segurança e participação social. Não é uma abstração; é um projeto de justiça.
Para que essa liberdade se concretize para todos, a economia deve servir à expansão das capacidades humanas, não à concentração de riqueza. Isso significa investimento contínuo em educação, saúde, nutrição, moradia e infraestrutura. Significa combater desigualdades, promover a redistribuição de renda e garantir oportunidades reais. A economia, para ser justa, precisa estar a serviço da vida, não do lucro. E os mercados devem operar com limites éticos e sociais, respeitando direitos e promovendo inclusão.
Agora, pense com honestidade: você tem liberdade para escolher como viver? Para decidir seu trabalho, seus estudos, seu tempo, seu salário, o bairro onde mora ou o país que deseja conhecer? Para milhões de brasileiros, a resposta é não. No capitalismo periférico de países como o Brasil, a promessa de liberdade é diariamente frustrada por um cotidiano de restrições, precariedades e exclusões.
Portanto, o verdadeiro desafio do desenvolvimento brasileiro não é apenas econômico: é civilizatório. É garantir que todos possam florescer plenamente como seres humanos, com acesso efetivo às liberdades fundamentais. Isso exige uma reorganização profunda das prioridades nacionais, políticas, econômicas e sociais.
Mas essa liberdade, concreta, plural e justa, jamais será defendida por representantes da extrema direita. A “liberdade” que eles anunciam é a liberdade de destruir a liberdade dos outros. É a camuflagem do autoritarismo que já conhecemos, travestido de discurso democrático.
Então, da próxima vez que ouvir a extrema direita gritar por “liberdade”, lembre-se: são os mesmos que exaltaram ditadores, que torturaram, censuraram e silenciaram vozes dissidentes. Eles não lutam por liberdade. Lutam para que você se esqueça da história, e para que ela possa se repetir.

Apoie o Ourinhos.Online⬇️
https://apoia.se/ourinhosonline

Editor Ourinhos Online