Parceria Brasil-Índia: BRICS, Donald Trump e uma alternativa multipolar – Por João Felipe Carvalho
Compartilhe
O encontro entre Lula e Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, no dia 7 de agosto de 2025, não foi apenas um ato formal para registros de imprensa. Representou a consolidação de um movimento de aproximação que já vinha se desenhando e que, desta vez, encontra um contexto externo que o torna urgente. A relação Brasil–Índia assume contornos de uma agenda, colocada em importância estratégica por conta do protecionismo de Donald Trump que acertou os dois países com a mesma lógica: pressionar economicamente para conter o rearranjo de forças no comércio global.
As tarifas norte-americanas vieram em ondas sucessivas, mirando setores estratégicos da economia indiana e, por consequência, afetando parceiros comerciais que compartilham mercados e cadeias produtivas com Nova Délhi. Foi um prenúncio de que a diversificação de parceiros econômicos, especialmente dentro do BRICS incomoda. (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul +). Afinidades antes descritas em termos mais abstratos, como agendas multipolares, cooperação Sul–Sule busca por autonomia, passaram a ser articuladas como projetos concretos: ampliar o comércio bilateral, integrar cadeias logísticas, alinhar posições políticas.
O que está no horizonte não é apenas um incremento no fluxo de mercadorias, mas uma estratégia de construção de alternativas. É criar opções, encontrar objetivos comuns e valorizar as competências comuns e individuais dos países membros. Mão de obra abundante e crescentemente especializada, grandes territórios e economias que movimentam quantidades abundantes de dinheiro. Desde sua criação, em 2009, o bloco foi acusado por analistas ocidentais de ser mais retórico do que operacional. Hoje, é a mais prolífica plataforma para cooperação financeira, estímulo ao comércio intra-Sul, investimentos conjuntos em infraestrutura e criação de padrões tecnológicos próprios.
O histórico brasileiro ajuda a entender por que isso importa. Nos anos 2000, o MRE brasileiro promoveu uma aproximação intensa com a África e a Ásia, abrindo embaixadas e fortalecendo o Itamaraty em missões econômicas. A diferença é que, naquela época, a pressão externa era difusa e o contexto internacional ainda ecoava o sentimento multipolar pós Guerra Fria, que permitia algum equilíbrio entre potências. Agora, a margem para pluralidade estreitou. As sanções, os bloqueios e as barreiras tarifárias tornaram-se instrumentos de uma tentativa quase infantil de diplomacia coercitiva dos Estados Unidos.
O tarifaço dos EUA é apenas a manifestação mais visível de um incômodo mais profundo, um sentimento de risco da perda permanente do poder normativo do Norte geográfico. É revelador que medidas comerciais e investigações regulatórias surjam justamente quando parcerias Sul–Sul começam a ganhar força e profundidade.
Linhas de crédito, amparo a cadeias produtivas e diplomacia ativa para abrir mercados são parte de uma lógica já conhecida na política externa brasileira: multiplicar opções para não depender de poucos centros. A diferença, desta vez, é que a agenda é pensada priorizando os países que são, por natureza, gigantes demográficos e econômicos, os BRICS, com o bloco funcionando como caixa de ressonância para esses esforços de aproximação.
Se Brasil e Índia conseguirem converter o momento atual em estruturas permanentes de cooperação financeira, logística e tecnológica, terão reduzido a vulnerabilidade de suas economias às pressões externas. E o BRICS, que já serviu como vitrine política, pode se tornar um mecanismo de defesa coletiva contra o uso político do comércio e da moeda, especialmente com a grande pauta da substituição da moeda de comercialização entre os países do BRICS por uma moeda comum e a adição recente de mais 6 membros além dos fundadores, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Apoie o Ourinhos.Online⬇️
https://apoia.se/ourinhosonline
