Câmara aprova empréstimo de R$140 milhões sem transparência e gera polêmica em Ourinhos
Maior endividamento da história da cidade é aprovado sem dados sobre juros, parcelas ou destino detalhado do dinheiro. Único voto contrário foi do vereador Kita (MDB).
A Câmara Municipal de Ourinhos aprovou na noite desta segunda-feira (12) um projeto de lei que autoriza a Prefeitura a contratar um empréstimo de R$140 milhões junto ao Banco do Brasil — o maior da história do município. A proposta, enviada pelo prefeito Guilherme Gonçalves (Podemos), foi votada em regime de urgência e aprovada por ampla maioria, mesmo sem informações básicas como valor dos juros, prazo de pagamento, valor das parcelas e detalhamento do uso dos recursos.
A justificativa oficial enviada pelo Executivo é genérica: os valores seriam destinados a áreas como educação, saúde, infraestrutura, mobilidade e despesas de capital. No entanto, não foi apresentado qualquer plano técnico ou cronograma de investimentos, o que gerou críticas de parte dos vereadores e de setores da população.
Cheque em branco e falta de transparência
O presidente da Câmara, Cícero Investigador (Republicanos), alertou para a falta de informações essenciais no projeto. “Isso vai impactar o orçamento do município por muitos anos. Precisamos saber com clareza onde esse dinheiro vai ser investido, porque até agora não foi apresentado nenhum plano detalhado. A prefeitura também não informou o valor das parcelas, nem os juros desse empréstimo. Como vamos aprovar algo assim?”, questionou.
Cícero também lembrou que ele e Guilherme, quando vereadores, votavam juntos contra empréstimos propostos pelo ex-prefeito Lucas Pocay (PSD). “Fui contra e continuo com a mesma opinião. Gostaria que ele (Guilherme) não precisasse de empréstimo para tocar sua administração.”
Contradição do prefeito é exposta
O vereador Kita (MDB) reforçou a crítica mostrando um vídeo de 2021 em que Guilherme Gonçalves, ainda como vereador, se posicionava duramente contra um empréstimo de R$70 milhões solicitado por Pocay. No vídeo, Guilherme criticava a urgência do projeto e a falta de planejamento, exatamente os mesmos pontos questionados agora.
“Eu vou protocolar junto ao Ministério Público para que seja avaliada a legalidade do procedimento legislativo adotado, a ausência de instrução técnica adequada e eventual prática atentatória ao interesse público e à boa gestão fiscal”, anunciou Kita.
Discussão acalorada e votação polêmica
A sessão foi marcada por embates. João Gonçalves (PP), irmão do prefeito, tentou desviar o foco das críticas, perguntando se Kita havia feito críticas semelhantes a gestões anteriores. Kita respondeu de forma contundente: “Quando seu irmão bradava, dessa mesma cadeira que está sentado, que era contra empréstimo e urgência, o senhor acompanhava a sessão ou não?”
Apesar das críticas, a maioria dos vereadores aprovou o projeto, justificando com um “voto de confiança ao prefeito Guilherme”. Entre eles, Gil Carvalho (PL), Wesley (Republicanos), Vadinho (Podemos), Anísio (PSB), Eder Mota (PSB) e Sargento Sérgio (MDB). O parecer da Comissão de Justiça e Redação foi assinado em menos de dois minutos por Gil Carvalho, tempo insuficiente para análise de um projeto dessa magnitude.
Resultado da votação:
• A favor: Anísio (PSB), Borjão (PSD), Celinho (Podemos), Eder Mota (PSB), Alexandre Enfermeiro (PSD), Furna (MDB), Gil Carvalho (PL), João Gonçalves (PP), Raquel Spada (PSD), Santiago (Cidadania), Sargento Sérgio (MDB), Vadinho (Podemos) e Wesley (Republicanos).
• Contra: Kita (MDB).
• Abstenção: não houve.
• Cícero Investigador, por ser presidente, só votaria em caso de empate.
Promessas esquecidas
Em 2021, Guilherme Gonçalves foi um dos maiores críticos do empréstimo de R$70 milhões solicitado por Pocay. Na época, classificou a proposta como irresponsável e votou contra. Agora, como prefeito, não apenas propôs um valor ainda maior, como também exigiu urgência na tramitação e ignorou os próprios argumentos passados.
Prometeu cortar gastos. Não cumpriu.
Prometeu responsabilidade. Entregou improviso.
Prometeu mudança. Virou continuidade — com dígitos ainda maiores.
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