Enquanto deputado bolsonarista deseja a morte de Lula, governadora petista envia helicóptero para socorrer Bolsonaro

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Gesto de Fátima Bezerra contrasta com a crescente hostilidade entre adversários políticos; Lula já havia dado exemplo semelhante ao comparecer ao velório do filho de Alckmin em 2015.

Por Ourinhos.Online

Em um país marcado por polarizações políticas cada vez mais intensas, a notícia de que a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), disponibilizou um helicóptero do Estado para socorrer o ex-presidente Jair Bolsonaro após um mal-estar abdominal, ganha contornos ainda mais simbólicos quando colocada em contraste com a radicalização do discurso público.

Bolsonaro, que cumpria agenda na cidade de Santa Cruz (RN), precisou ser transferido com urgência para a capital potiguar, Natal. Sofrendo com fortes dores abdominais, possivelmente decorrentes de complicações da facada que sofreu em 2018, o ex-presidente foi primeiro atendido em um hospital público e depois levado de helicóptero — cedido pela Secretaria de Segurança Pública do estado, a pedido da governadora petista — até a capital. De lá, seguiu para o hospital privado Rio Grande, onde permanece internado.

O episódio, por si só, já revela um gesto de humanidade acima das disputas ideológicas. Mas se torna ainda mais relevante quando contrastado com as recentes falas de um deputado bolsonarista que, publicamente, expressou o desejo de morte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A banalização da violência política, em especial quando vocalizada por parlamentares eleitos para representar a população, escancara um cenário onde o ódio substituiu a divergência e a eliminação simbólica — ou até literal — do outro se tornou estratégia retórica.

Fátima Bezerra, ao agir com rapidez para garantir o socorro de Bolsonaro, representou não apenas o papel institucional de uma governadora, mas também a ética que deveria nortear qualquer figura pública: a defesa da vida, mesmo quando se trata de um adversário político.

O gesto remete a outro episódio marcante da política nacional. Em 2 de abril de 2015, quando Lucas Alckmin, filho do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (à época no PSDB), faleceu em um acidente de helicóptero, o ex-presidente Lula fez questão de comparecer ao velório. Apesar das diferenças políticas, Lula foi ao local, confortou a família e prestou solidariedade. O ato foi amplamente reconhecido como um exemplo de empatia, num momento em que a dor falava mais alto que qualquer palanque.

Hoje, a presença de Lula no velório de Lucas e a atitude de Fátima Bezerra em favor de Bolsonaro representam algo raro no cenário político atual: a compreensão de que adversários não precisam ser inimigos, e de que a dignidade humana deve prevalecer sobre o rancor partidário.

No Brasil de 2025, onde muitos se orgulham de fomentar o ódio, gestos como esses — mesmo que pontuais — reacendem uma esperança: a de que ainda é possível discordar sem desumanizar, disputar sem destruir, conviver sem querer o extermínio do outro.

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Editor Ourinhos Online