Setembro Amarelo: Reflexões Necessárias Por Luiz Bosco
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A finalidade da campanha conhecida como “Setembro Amarelo” é simples: superar os tabus em torno do suicídio para que as pessoas busquem ajuda sem receios, caso apresentem pensamentos ou planos de tirar a própria vida.
Essa ação continua atual e necessária, considerando-se que ainda há temor de se falar a respeito, principalmente quando se está vivenciando o problema.
É comum a atitude de se afirmar que esses pensamentos deveriam ser simplesmente deixados de lado. Ou ainda, de que são moralmente condenáveis, seja pela ótica dos vínculos familiares, seja pela sacralidade da vida, presente no discurso religioso.
Tornar o assunto livre de tabus não é incentivar que se fale a respeito de forma descuidada. É mostrar às pessoas que sentem que precisam de ajuda, que essa ajuda existe e não é vergonhoso solicitá-la.
Tampouco se trata de incentivar o suicídio. Esse argumento, sem fundamento algum, é perigoso por desmobilizar as ações preventivas, colocando-as como potenciais responsáveis por suicídios, produzindo confusão entre o público e reafirmando os tabus existentes.
A campanha deve ser feita nas instituições (mas não somente nelas), para que seus membros se sintam seguros para procurar ajuda. Evidentemente, as ações pela saúde mental não podem se restringir à campanha em Setembro, devendo tomar esse momento como ponto de partida para programas permanentes.
Ações necessárias ao longo do ano:
• Ações para o bem-estar, com a liberação das pessoas para participarem delas. De nada adianta dizer que as pessoas podem procurar ajuda e não oferecê-la, nem disponibilizar horário de trabalho ou aula para a pessoa buscá-la.
• Disponibilização de atendimento profissional (médico e psicológico), de maneira efetiva e financiada pela instituição ou organização. De nada serve dizer para buscar ajuda e não dar condições concretas de acesso. Nem todos têm recursos para isso, ou têm acesso fácil a uma unidade de saúde pública próxima.
• Programas de combate à intimidação (“bullying”), ao assédio (em todas as formas) e a todas as formas de preconceito. A convivência respeitosa e construtiva é indispensável para a saúde mental e não é mais admissível tolerar qualquer constrangimento nesses espaços.
• Melhora concreta das condições de trabalho e estudo, o que passa por melhor remuneração para profissionais, garantia de seus direitos e de boas condições físicas e psicossociais no ambiente laboral.
• Em específico para a Educação, as ações efetivas de saúde mental para estudantes e docentes esbarram na necessidade de se superar o modelo de salas lotadas, sem conforto e sem participação efetiva e democrática de todos no processo de ensino e aprendizagem. A informatização maciça, apontada como panaceia para a Educação, tem contribuído apenas para a elevação dos índices de estresse, burnout e para o esvaziamento da construção de vínculos e da afetividade em sala de aula, elementos indispensáveis para o ensinar.
Por fim, em meio à intensa publicidade promovendo as “inteligências artificiais”, é preciso ter claro que programas de computador, por mais “inteligentes” que possam parecer, não substituem a presença humana, tão necessária para nós. Disponibilizar bugigangas do tipo “chatbot” para as pessoas desabafarem é querer encontrar soluções baratas e pífias para situações complexas.
A ajuda profissional concreta continua sendo a melhor alternativa. Através das unidades de saúde pública (“postinhos”, entre outros) é possível conseguir atendimento médico e psicológico. Inclua-se aí o importante papel exercido pelos CAPS, com atendimento voltado ao sofrimento mental grave e persistente, incluindo os problemas com álcool e outras drogas.
Na cidade de Ourinhos, contamos ainda com o atendimento gratuito realizado por estagiários de Psicologia, como na Clínica de Psicologia da Faculdade Estácio de Sá.
Empresas e instituições de ensino estão aos poucos incluindo os cuidados com a saúde mental em suas diretrizes. Isso deve evoluir com a obrigatoriedade de avaliação e implementação de ações em relação aos riscos psicossociais, com as alterações da portaria NR-1.
Tudo isso é indispensável, considerando que o foco nas ações individuais é insuficiente. Promover o autocuidado é necessário, mas sem mudanças coletivas se torna um esforço semelhante a nadar contra a corrente.
Para quem tenha lido esse texto procurando resposta para alguma situação que esteja vivendo, reiteramos: procure ajuda profissional pelos diversos meios disponíveis. Não deixe para amanhã! Às vezes, é difícil sairmos de um lugar ou momento que está nos fazendo mal, sem ajuda com base técnica.
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