Quando o silêncio pede reverência – Por Paula Hammel

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Há quem insista em permanecer onde apenas o mutismo respira, ignorando a delicadeza do recesso sagrado.

Algumas figuras se acreditam essenciais em nossos caminhos, como se o mero fato de existirem lhes concedesse direito irrevogável à continuidade, mesmo quando sua aproximação se torna imprópria. Surgem de modo abrupto, rompendo barreiras, instalando-se onde deveria repousar a serenidade. Desconhecem que, em certas ocasiões, afastar-se traduz o gesto mais íntegro de zelo, a forma mais sutil de respeito.

Chegam sem cortesia, arrogantes diante do que não lhes pertence, conduzindo-se como se a permanência fosse um trono, e não um convite passageiro que exige reverência. Desprezam o recolhimento que ultrapassa o mero desuso da palavra, delineando a linha fina entre o tangível e aquilo que precisa conservar-se intocado.

Essa limitação em compreender a ausência como necessidade vital, e não como recusa, denuncia o pavor disfarçado diante do estar só, um apego disfarçado de afeto. Intriga perceber quantos reagem à distância voluntária como se fosse rejeição, sem notar que valorizar o intervalo é, por vezes, a expressão mais lúcida de cuidado genuíno.

Não reconhecem o momento exato de encerrar, esse gesto silencioso que encerra ciclos e permite novos começos, encontros renovados ou, quem sabe, o abrigo escolhido pela introspecção. Insistem como sombras espessas, hesitantes em dissipar-se, alheias à percepção de que a insistência não une: desgasta. Não semeia ternura: suga.

A quietude que carregam não é silêncio: é ruído velado, invasão sutil, recusa em perceber os contornos do outro. Não compreendem os sinais que pedem recuo, que sugerem afastamento, que indicam que o tempo de presença já passou. Não escutam, seja por arrogância, seja pela ausência da escuta real.

Ser único não significa ocupar cada canto. É compreender o instante de recolher-se, aquietar-se, reconhecer a fronteira alheia. Implica aceitar que o território de cada ser é inviolável, mesmo que isso custe o exílio voluntário.

Essa paz discreta fala alto. Convida a entender que o verdadeiro apreço floresce na medida, nunca na invasão. O encerramento pertence a quem detém a coragem de fazê-lo, não a quem prolonga a narrativa como se lhe fosse exclusiva.

E assim, entre chegadas e margens, descobrimos que a suspensão da voz, embora incômoda, pode ser a linguagem mais refinada que há. Um intervalo onde a ausência desenha forma, o invisível adquire densidade e o que cala, enfim, comunica.

Estamos dispostos a escutar o que a pausa íntima nos confidencia?

Na calma consentida, a vida reencontra seu compasso mais honesto.

Paula Hammel

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Editor Ourinhos Online