Palavra: a pátria secreta do pensamento Por- Paula Hammel

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Antes do verbo, repousa o silêncio; não aquele que esconde, mas aquele que gera. Uma pausa pulsante, na qual o significado começa a brotar, ainda que incompleto. A palavra não me pertence; sou eu quem a habita. Nasci entre os sons e, desde então, percorro um espaço vasto e infinito. Cada termo é simultaneamente herança e invenção.

A palavra transcende a mera comunicação. Torna-se o refúgio do sentido, daquilo que se desvia do imediato, que escapa do visível. Conhecer a língua não implica dominá-la, no entanto, entendê-la em sua complexidade, com clareza e reverência. Quem a compreende, encontra nela uma liberdade que desafia a indiferença do mundo.

O pensamento ergue-se pelos termos linguísticos. Sem nomeação, nada se forma; o que permanece por dizer, dissolve-se no invisível. Cada vocábulo é portador de uma história, de uma raiz, de um eco. Escrever com consciência é, portanto, criar; não apenas comunicar.

O discurso é ponte e lâmina. Ele une e também separa. Seu domínio exige uma precisão que se funde com a leveza, uma sintonia entre tradição e inovação. A beleza na escrita nasce da delicada fusão dessas forças, sendo o entendimento profundo o alicerce da criação.

Ler, escrever, falar: esses atos constituem a própria identidade. Cada erro, longe de ser falha, é uma abertura para o que ainda não foi apreendido. O zelo pela palavra não é vaidade, é um compromisso com o real, mas também com o que é impalpável e incompreensível.

Escrevo como quem segue estrelas distantes. Cada frase é um caminho. Habitar os enunciados com escuta atenta e profunda é buscar o sublime. Intuir quando o significado se oculta, é sentir que no interlúdio repousa o essencial.

Nenhuma ideia sobrevive em um termo negligenciado. A maneira como denominamos o mundo, define os limites da nossa percepção. Dominar a língua é uma forma de emancipação, é resistir à perda de sentido, principalmente quando o ruído invade a lacuna da verdade.

A linguagem não é simples ferramenta; é destino. Escrever, para mim, é o fraterno abraço íntegro diante do que não se pode dizer.

Paula Hammel

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Editor Ourinhos Online