Lei de Snell, ou simplesmente lei de refração – Por Pedro Saldida
Em Física Óptica, a Lei de Snell, ou comumente chamada de lei de refração (fenômeno que ocorre quando uma onda muda de velocidade e direção ao passar de um meio para outro), resume-se a uma expressão que dá o desvio angular sofrido por um raio de luz ao passar para um meio com índice de refração diferente daquele que estava percorrendo.
Lembrei da Lei de Snell para equiparar esta gestão a esse famoso fenômeno. Quando vos informei que iria escrever sobre os agentes de endemia, minha amiga Roberta Stopa entrou em contato comigo somente para me lembrar, e muito bem, das ações que ela tomou enquanto vereadora. Me assustei, juro que me assustei, já que o Projeto de Lei 103/2023 (desde 2023, portanto) foi prontamente rejeitado na Comissão de Justiça e Redação, presidida por Alexandre Enfermeiro (Enfermeiro é da Saúde, certo?????), que emitiu parecer desfavorável. A maioria dos vereadores votou favorável ao parecer, logo, rejeitando o Projeto de Lei.
Esse projeto tentava reparar injustiças como a desvalorização, o não repasse de verbas destinadas aos servidores, desvio de função e a não aquisição (investimento, não despesa) de equipamentos de segurança. Durante seu mandato, Roberta apresentou 13 (leram bem, treze) requerimentos para fiscalização e informações acerca deste setor vital para a comunidade. Mas quando Roberta apresentou uma moção de congratulações e agradecimento, em dezembro de 2023, foi prontamente aprovada. Foi uma luta de Davi contra Golias na defesa dos agentes comunitários de saúde e agentes comunitários de endemias.
Toda essa história tem que ser recordada se nos atentarmos ao que continua acontecendo no setor dos agentes de endemias. A morte da filha de uma agente de endemias por dengue veio mostrar de forma crua e nua as deficiências a que são sujeitos esses servidores.
Os agentes de endemia estão trabalhando 9 na nebulização e 5 nas visitas a imóveis. Depois temos os internos, os vips no ar-condicionado e mais de 20 desviados, em uma cidade que precisa de 60 agentes de endemia. Eles não reclamam de trabalhar, o que apontam é que outras cidades adotam horários que não os expõem a condições desumanas, como o calor intenso que estamos vivendo.
A maior reclamação nem é tanto o calor que enfrentam, mas as regalias que internos possuem há 8 anos, enquanto apenas 5 visitam imóveis. Enquanto isso, os internos, talvez fruto da não votação em Lucas Pocay (dizem eles, né, kkkk), ficam passeando de carro, vão almoçar com o carro oficial e obtêm mordomias que sequer fazem parte do concurso. Como exemplo, temos o gerente geral que veio da gestão anterior e era criticado no passado. Muitos servidores alertaram a nova gestão sobre esse indivíduo, mas ele continua. As reclamações contra ele são imensas, mas as pessoas têm medo de represálias e deixam o barco andar.
Se olharmos para todo esse cenário que acabei de mostrar, aliado a um desgoverno, na minha opinião, em planejamento e logística, temos um quadro mais sombrio do que poderíamos imaginar. Só este ano, o pior na história da dengue em nosso município, já temos 312 casos confirmados até o momento. E diante desses dados, qual foi a ideia do secretário de Saúde? Vamos aumentar a produção, não vamos chamar os desviados, os 9 da nebulização e os 5 das visitas aos imóveis irão trabalhar de sábado, domingo e feriados. Vamos pagar hora extra para ajudar os agentes. Seria tão mais fácil chamar os 10 internos que gostam de passeios de carro oficial, aproveitando o ar-condicionado, bem como os 20 desviados de função.
O falecimento, aliado às dificuldades vividas pelos agentes, levou-os à Secretaria de Saúde para falar com o secretário, mas, pasmem, ele não se encontrava nem apareceu para recebê-los. O secretário, que faz tantos vídeos, não aceita escutar os servidores que estão no terreno e têm tantas reclamações. Aliás, basta lembrar o mutirão na escola do Itamaraty: o prefeito chegou no final do evento e nem tiveram capacidade de se aproximar do pessoal que luta contra a dengue. No evento da dengue na Estácio, os agentes sequer foram convidados.
Todo este texto para relembrar o título da coluna desta semana: Lei de Snell. Só posso acusar a gestão porque ela teve que escolher a governança para atingir a governabilidade, mas essa decisão levou a problemas nos setores intermediários. O prefeito (essa onda que mudou de velocidade e direção), enquanto vereador, enxergava todas as necessidades e problemas do nosso município. Estava convicto de que conseguiria fazer tudo o que a população necessitava. Agora, como gestor, viu-se preso a um Legislativo que dita as regras e dispõe as peças do tabuleiro de xadrez como bem entende.
Basta olharmos os cargos da gestão anterior, criticados por incompetência, incapacidade, perseguição, arrogância e prepotência, que continuam seu trabalho da mesma forma porque sabem que são intocáveis, que nada lhes acontece. E não me venham dizer que é mentira. Basta lembrarmos de uma guerra bem recente entre o vereador Guilherme e Raquel Spada, e agora é só romance. Algumas más línguas dizem que quem manda na Secretaria da Mulher é ela, e o candidato Guilherme e Éder Mota, que chegou inclusive a chamar Guilherme de canalha.
Como diz a ex-secretária da Educação, temos sempre que ver quem senta à mesa conosco. Se as pessoas perdem seus princípios e valores para abraçar ardilosos, então essas pessoas é que estão erradas, e não nós, que continuamos sendo resistência, sendo a voz dos que não conseguem emitir um som sequer, que sofrem perseguição e represálias. Ainda estou aqui, sempre apoiando e tentando mudar o que vejo de errado. Não me considero oposição, me considero resistência. E sei que, do meu lado, tenho um exército capaz de lutar contra injustiças.
Queremos sempre que dê certo, porque estamos no mesmo barco. Esta crônica de hoje é um pedido de ajuda da população e dos servidores que lutam bravamente contra a dengue sem condições mínimas, até mesmo a nível psicológico.
Deixo-vos com uma frase de William Faulkner, escritor norte-americano considerado um dos maiores romancistas do século XX e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1949:
“O homem não apenas sobreviverá, ele é imortal, não porque só ele entre as criaturas tem uma voz inesgotável, mas porque tem alma, tem espírito capaz de compaixão, do sacrifício e da resistência.”
Pedro Saldida
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