As escolhas que nos escolhem

Quando menina, sonhei ser bailarina, ginasta, cantora, médica. Consegui cantar, danço, dou uma de ginasta às escondidas e trato meus “pacientes” que se permitem a novas experiências. Aprendi muitas coisas sozinha e sobre diversas áreas. A leitura sempre foi uma amiga cientista e pesquisadora que me permitiu evoluir; ser uma formiga gigante, entretanto, ao mesmo tempo, me deixou bastante confusa. Foram muitas as escolhas que me escolheram: farmacologia, literatura, alguns idiomas, história, psicologia, filosofia, astrofísica etc. De tudo que aprendi e repassei, pois conhecimento estático é vão, mesclei em um blend e o coloquei em alguns potinhos guardados e escondidos. Os escondi porque já assustei amigos (as), porque me transformei em quem não almejava ser.
Todavia, se abrir ao mundo e clarear os mais profundos defeitos – se é que assim posso chamá-los, é gritar para vida as percepções sobre ela e de si a quem quer que seja. É sair de uma crônica e ser um personagem – talvez, mais de um. Lembro de Fernando Pessoa e Álvaro de Campos na seguinte composição: “Pai, eu não aprendi a tua serenidade”. Não corri muito atrás da minha, então, agora, não devo e não quero serenar. As escolhas que fiz, um pouco desastrosas, cabem um tostão. Já dei um milhão por elas, já quase as vendi por um centavo.
Como mencionei, não sou a pessoa que aspirava ser com os caminhos que trilhei. Já parei, apesar dos pesares, para refletir: será que realmente me deixei ir por tantos lugares para chegar até aqui? Será que a vida fez de mim aquilo que eu merecia ou mereço? Posso culpar o destino, a quântica, o céu? Posso culpar o inferno.
Cada amanhecer, a meu ver, não é um novo recomeço; ouço os gritos da continuidade do que deixei de realizar no dia anterior e de mudar o que ainda pode ser modificado. Reiniciar, dar um delete e um start na máquina pode ser feito quando ela pifar. Ou seja, a qualquer minuto. Há algum tempo eu pifei. O start não funcionou, deletei todos os arquivos e cá estou: nova em folha para escolher as escolhas que me escolhem.




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Paula Hammel