A educação de antigamente era melhor? – Por Maurício Saliba

Ah, a boa e velha “crise da educação” brasileira. Parece até um mantra nacional, né? Falamos dela como se em algum momento tivéssemos vivido uma era dourada, em que os alunos eram gênios, os professores deuses e as escolas templos do saber. E, claro, seu avô vai jurar de pés juntos que, na época dele, o ensino era uma maravilha. Pois bem: tudo balela!
Na era gloriosa do seu avô, a educação era um clube VIP, com entrada limitada. O ensino primário era praticamente o único ingresso disponível, e chegar ao “Segundo Grau” (hoje ensino médio) era um luxo reservado a poucos sobreviventes do temido Exame de Admissão ao Ginásio. A maioria ficava pelo caminho. Ah, mas ficavam porque era mais difícil? Que nada! Era porque o modelo era uma competição de memorização. O professor lotava o quadro com informações, e quem decorasse mais — e mais rápido — vencia. Um sistema ideal para quem tinha tempo, dinheiro e uma família com “capital cultural” de sobra. Já para os pobres mortais, era o equivalente educacional de tentar correr uma maratona descalço.
Paulo Freire chamou essa maravilha de educação “bancária”. O professor depositava conhecimento na sua cabeça (como dinheiro num banco), e na prova sacava tudo de uma vez. Só que, nesse caso, o saldo sempre era negativo para os mais pobres. Isso quando não vinha acompanhado de humilhações e até castigos físicos, porque, afinal, nada como um sistema escolar violento para manter viva a tradição escravagista, né?
“Ah, mas pelo menos se aprendia mais”, diria o nostálgico. Não, meu caro, não aprendia. O conteúdo era tão raso que dava vergonha. História? Decore nomes de heróis e datas, sem entender absolutamente nada. Ciências? Memorização mecânica, sem contexto ou aplicação prática. Filosofia e sociologia? Uma citaçãozinha de efeito aqui, um nome famoso ali, e pronto. Era tudo raso como um prato de sobremesa, e tão útil quanto uma bicicleta sem rodas.
E o resultado disso? Uma escola feita para reprovar e humilhar. Quem vinha de um lar sem livros, sem apoio ou sem tempo (porque precisava trabalhar, olha que novidade!) era esmagado. Já os filhos da classe média, com toda a estrutura por trás, tinham mais chances de sucesso. O sistema não só validava essa desigualdade como fazia um trabalho brilhante em colocar a culpa no aluno. “Reprovou? Ah, é porque você não é inteligente o suficiente. Educação não é para você.” O resultado: legiões de ex-alunos traumatizados, com baixa autoestima e a certeza de que mereciam ser pobres.
E o grande truque desse modelo? Legitimar a desigualdade social. Se você saía da escola se achando burro, aceitava seu lugar no mundo com a cabeça baixa. A mensagem era clara: alguns nasceram para o sucesso intelectual e, portanto, para mandar; outros nasceram para obedecer. Tudo muito funcional para manter as coisas como sempre foram.
Então, quando seu avô disser que na época dele o ensino era melhor, dê um sorriso e pergunte: melhor para quem?
E hoje, o ensino é melhor? Ah, essa discussão fica para o próximo artigo.

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Editor Ourinhos Online