Remake: palavra capciosa no dicionário cinéfilo – Por Bruno Yashinishi
Nos últimos anos, os remakes de clássicos da Disney se tornaram frequentes no cinema. No entanto, a versão live-action de Branca de Neve, lançada em 2025, levanta questões mais profundas sobre a direção que a indústria está tomando quando se trata de adaptar grandes narrativas. Com um orçamento colossal de US$ 270 milhões, o remake parecia ter todas as condições para ser um sucesso garantido, mas, como veremos, ele acaba se perdendo entre polêmicas, falta de inovação e uma incapacidade de responder de forma satisfatória às expectativas criadas ao redor de um ícone da animação.
O primeiro ponto que não pode ser ignorado é o elenco e os contornos sociais que envolveram a escolha dos atores. A escolha de Rachel Zegler, uma atriz de ascendência colombiana, para o papel da Branca de Neve gerou controvérsia, não apenas por questões de representatividade, mas pela forma como a mudança no elenco foi tratada. A reação da parte do público não foi unânime, e algumas críticas questionaram a necessidade de mexer tanto com o clássico, trazendo à tona discussões sobre diversidade, representatividade e o que o público realmente espera de um remake. O que deveria ser uma celebração das mudanças sociais acabou se tornando um campo de batalha ideológica que, ao invés de agregar, só enfraqueceu o filme em sua chegada ao grande público.
Além disso, os próprios comentários políticos de Zegler e de Gal Gadot, que interpreta a Rainha Má, sobre as questões do Oriente Médio, trouxeram mais complexidade à recepção do filme. Em tempos tão polarizados, qualquer posicionamento político de figuras públicas acaba gerando divisões que não têm necessariamente a ver com a qualidade do filme em si, mas com a percepção do público sobre suas inclinações. Em vez de facilitar a conexão do espectador com o filme, isso só gerou mais uma camada de fricção em torno da obra, algo que poderia ser evitado se a produção tivesse focado, simplesmente, em contar a história de uma forma mais universal e descomplicada.
A questão da computação gráfica e dos anões também foi um dos pontos polêmicos que não pode ser deixado de lado. O uso de CGI (imagens geradas por computador) para representar os sete anões, ao invés de optar por atores reais, gerou divisões. Muitos consideraram o uso da tecnologia uma solução preguiçosa e desnecessária. A escolha técnica se tornou uma metáfora do próprio remake: uma tentativa de modernizar o clássico, mas que, na prática, acabou por diluir a magia e o calor humano que a história original possui. O CGI, ao invés de trazer um novo olhar para os personagens, acabou por transformá-los em figuras virtuais distantes e sem alma, que não conseguem carregar a mesma carga emocional do filme de 1937.
Se a intenção era modernizar a história de Branca de Neve, o filme falha em seu propósito. A tentativa de mesclar temas contemporâneos com a narrativa original de contos de fadas se perde em um roteiro confuso, que oscila entre o desejo de resgatar o espírito clássico e a necessidade de se adaptar às exigências do público atual. A produção é uma montanha-russa de elementos que não se conectam de forma orgânica, resultando em uma experiência desconfortável para o espectador. O filme é incapaz de capturar o encanto e a simplicidade da animação original, que cativou gerações, deixando no lugar uma versão que busca, sem muito sucesso, ser relevante sem entender verdadeiramente o que fazia a história ressoar com o público.
A crítica também se volta para a própria direção de Laís Bodanzky, que, apesar de sua habilidade como cineasta, parece aprisionada pelas expectativas comerciais que cercam esse tipo de adaptação. O tom do filme é inconsistente: ora parece querer fazer uma reflexão sobre questões sociais, ora se perde na necessidade de agradar ao grande público com cenas desnecessariamente complexas e efeitos visuais que, em vez de impressionar, acabam sendo desproporcionais à narrativa.
Em termos de bilheteiras, o filme não cumpriu as expectativas. Apesar de liderar as bilheteiras da América do Norte no fim de semana de estreia, o desempenho global ficou aquém do esperado, arrecadando menos do que os custos de produção. O que era para ser uma grandiosa celebração do legado de Branca de Neve se transformou em uma versão esquecível, que fica aquém de outros remakes da Disney, como O Rei Leão (2019) ou Aladdin (2019), que, ao menos, conseguiram equilibrar nostalgia com inovação.
No final, Branca de Neve (2025) é um exemplo clássico de como o apelo do remake, quando mal executado, pode ser uma faca de dois gumes: por um lado, ele tenta agradar os fãs do original e, por outro, tenta ser inovador sem realmente entender o que fez o filme de 1937 ser atemporal. A busca por relevância e aceitação nas esferas sociais e culturais contemporâneas acaba obscurecendo a verdadeira essência da história, e o filme, no fim, se perde nas suas próprias contradições
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