“Raul Seixas: Eu Sou”: O retrato ousado e emocionante do Maluco Beleza – Por Bruno Yashinishi

Já disse aqui algumas vezes que não gosto de série, mas dessa vez fui surpreendido. “Raul Seixas: Eu Sou”, produção do Globoplay, é daquelas obras que nos tiram da zona de conforto e nos fazem lembrar por que a arte ainda tem tanto poder. Em oito episódios, a série mergulha fundo na trajetória de Raul Seixas, sem medo de explorar suas contradições, sua genialidade e suas loucuras — tudo com sensibilidade, beleza e inteligência.
Sob direção de Paulo e Pedro Morelli, com produção da O2 Filmes, a série vai além da simples biografia. Ravel Andrade, no papel principal, entrega uma atuação impressionante. Ele não apenas imita Raul; ele o incorpora. A voz, os trejeitos, o olhar perdido e ao mesmo tempo inquieto… tudo está lá. A construção do personagem é resultado de uma pesquisa intensa, que envolveu documentos, áudios antigos e conversas com Vivi Seixas, filha do cantor.
O que mais impressiona é o formato. “Eu Sou” não segue uma linha reta. É fragmentada, psicodélica, quase como um sonho — ou um delírio, no melhor estilo Raul. Mistura cenas realistas com momentos oníricos, simbolismos e reconstruções históricas ricas em detalhes. A trilha sonora é arrebatadora, os figurinos são precisos e a ambientação nos transporta direto para os anos 70 e 80, sem parecer caricata.
A série acerta também ao não poupar o espectador dos altos e baixos da vida de Raul. Mostra sua genialidade, mas também sua autodestruição. A parceria com Paulo Coelho, o envolvimento com o misticismo, a obsessão pela liberdade e até sua decadência física são retratados com honestidade, mas sempre com empatia. Raul aparece como um homem dividido: entre a rebeldia e a dor, entre o riso e o abismo.
Não por acaso, “Raul Seixas: Eu Sou” foi a primeira série brasileira selecionada para o Festival Series Mania, na França, onde concorreu a prêmios importantes como Melhor Série, Direção e Ator. É um reconhecimento merecido para uma obra que é, acima de tudo, uma experiência sensorial e emocional.
Mais do que contar a história de um ícone, a série nos lembra que Raul não queria ser compreendido — queria ser vivido. E, nesse sentido, “Eu Sou” faz jus ao legado do Maluco Beleza: nos desafia, nos emociona e, sobretudo, nos faz pensar.

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Editor Ourinhos Online