“Ainda estou aqui” (2024): De fato, precisava voltar pelas Fernandas e Eunices do Brasil – Por Bruno Yashinishi

Estive um pouco ausente da redação do Ourinhos Online, por motivos pessoais e de estudo. No entanto, minha volta pegou a mim mesmo de surpresa. Óbvio, precisava voltar pelas Fernandas e Eunices do Brasil.

Assisti ao filme “Ainda estou aqui” (2024), de Walter Salles, em dezembro em um cinema de Ourinhos. Desde então saí tão extasiado do filme que, agora com a premiação que eu (e todos os brasileiros queriam) achei uma obrigação aos nossos leitores.
Em primeiro lugar, o longa-metragem baseado no livro autobiográfico escrito por Marcelo Rubens Paiva, com ênfase em sua mãe Eunice Paiva, à primeira vista, pode parecer simples em sua premissa, mas é uma obra profundamente emocionante e cinematograficamente rica. Com uma abordagem intimista e sensível, o filme propõe uma reflexão sobre a vida, o tempo e as escolhas que moldam o nosso destino.
Dirigido pelo talento excepcional de Salles, o filme é sustentado por uma performance arrebatadora de Fernanda Torres (que interpreta Eunice Paiva na juventude e maturidade) que, mais uma vez, se confirma como uma das maiores atrizes da nossa cinematografia.
O enredo centra-se em uma personagem que lida com questões existenciais e familiares, e Torres imerge nesse papel com uma intensidade que transmite verdade e vulnerabilidade a cada cena. Sua interpretação é um estudo de nuances, em que cada gesto, olhar e pausa adiciona camadas à construção da personagem. Não é apenas uma atuação, é uma verdadeira entrega. A atriz consegue equilibrar a leveza de momentos delicados com a gravidade das situações mais desafiadoras, proporcionando ao público uma experiência genuína de empatia e conexão..
A trilha sonora é outro ponto alto da obra. As músicas, que permeiam a narrativa, são escolhidas com maestria e complementam perfeitamente as emoções transmitidas pelas imagens e pelo elenco. A sonoridade do filme, sempre delicada e quase como uma extensão das emoções dos personagens, cria uma atmosfera única e envolvente.
No entanto, o filme não se limita a uma jornada pessoal de superação. “Ainda Estou Aqui” aborda com sutileza a dor e as cicatrizes deixadas pela ditadura militar brasileira, um legado que ainda reverbera nas vidas de muitos brasileiros. A opressão, o medo e a repressão política não são apresentados de forma explícita, mas se infiltram na trama como um trauma coletivo, um peso que continua a moldar as relações e a identidade da protagonista. O uso do tempo, com transições entre o passado e o presente, simboliza não apenas o processo de reconciliação pessoal, mas também o esforço de lidar com as consequências de um período obscuro da nossa história.
A personagem Eunice, interpretada por Fernanda Torres é um reflexo de uma geração que não viveu diretamente a ditadura, mas que cresceu sob seus ecos. Através de pequenas falas, gestos e olhares, Torres transmite a carga emocional de uma história não contada, de uma memória que nunca se apaga completamente. Sua performance não é apenas uma representação, mas uma ressurreição das dores silenciosas de um povo. Já a atuação de Fernanda Montenegro (que interpreta Eunice na velhice e já com o Mal de Alzheimer) é um espetáculo por si só, uma aula de atuação cinematográfica sem o uso de qualquer palavras ou sons. Ela apenas olha, nos olha, da tela para a história.
O reconhecimento de Fernanda Torres no Globo de Ouro é mais do que merecido. Sua atuação é uma das grandes forças de “Ainda Estou Aqui”, mas o filme, como um todo, é uma obra que merece ser aplaudida por sua sensibilidade, técnica e profundidade emocional.
Com sua capacidade de capturar a essência do trauma político e pessoal, “Ainda Estou Aqui” é uma verdadeira obra de arte que nos faz refletir sobre a importância de olhar para o passado para entender o presente. O longa é uma prova de que o cinema brasileiro segue vivo e capaz de emocionar e provocar uma reflexão profunda.
Precisei voltar, pelas Fernandas e Eunices do Brasil

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Editor Ourinhos Online