Por que gostamos de filmes de terror? Uma entrevista com a professora Dra. Taiane Silva (UEL) – Por Bruno Yashinishi

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O terror — ou horror — é um dos gêneros mais populares e duradouros do cinema. Mesmo quando tapamos os olhos nas cenas mais assustadoras, seguimos fascinados por histórias de zumbis, fantasmas, seriais killers e criaturas sobrenaturais. Os filmes de terror seguem conquistando bilheterias e cultivando legiões de fãs ao redor do mundo. Mas o que nos atrai tanto nessas narrativas que despertam medo, tensão e, por vezes, verdadeiro pavor? Para entender os motivos por trás desse estranho prazer, conversamos com a professora Taiane Vanessa da Silva, cinéfila e apaixonada pelo gênero.

Taiane é doutora em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), mestra e graduada em História pela mesma instituição. Atualmente é professora de Ensino de História e História Moderna na UEL, assim como professora de Geografia na rede básica de ensino.

BY: Taiane, por que algumas pessoas amam esse tipo de filme, enquanto outras não suportam?
TV: Vou falar com base em uma opinião bem pessoal, não pretendo ser acadêmica (rs). Acredito que o fascínio por filmes de terror esteja muito associado à curiosidade pelo desconhecido, pelo sobrenatural e pela própria sensação de adrenalina. Particularmente, eu me interesso mais por filmes de possessão demoníaca, pois, no início da adolescência, fiquei muito curiosa com o filme O Exorcista, mesmo sem saber de todo o seu legado canônico na época. Também tenho muito interesse por filmes que misturam terror com plot twist, como é o caso de Os Outros, que acredito ter sido o primeiro filme do gênero que assisti. Acho que minha curiosidade pelo desconhecido foi crucial tanto na escolha dos meus filmes e livros preferidos quanto na minha profissão. Ser historiadora também demonstra essa curiosidade. A história do medo, museus que abordam coisas consideradas “macabras” sempre me interessaram. Enfim, são questões pessoais. Quanto às pessoas que não suportam esse gênero, acredito que seja pelo medo do desconhecido (rs). Diferente da curiosidade, o medo pode remeter a imagens que as pessoas não estão a fim de acessar, por estarem relacionadas a traumas (como medo do escuro, de palhaços, da morte). Além disso, muitos não estão preparados para os efeitos-surpresa, como os constantes sustos.

BY: O medo provocado por esses filmes pode ter alguma função positiva, como catarse ou alívio emocional?
TV: Acredito muito nessa hipótese! Com base na minha experiência com filmes de terror e na minha própria personalidade, percebo que tenho dificuldades em expressar determinadas emoções. Nesse sentido, os filmes se tornam uma forma segura de vivenciá-las. Vejo o terror como um bom recurso para lidar e controlar a ansiedade e até certos traumas, já que funciona como um treino para enfrentar medos de maneira indireta. Afinal, essas situações não são reais, mas fazem parte da narrativa ficcional de um filme.

BY: Você acha que os filmes de terror refletem os medos e ansiedades da sociedade em diferentes momentos históricos?
TV: Agora vou usar uma análise mais acadêmica (rs). Pensando em uma base mais cultural, acredito que todo filme parte da demanda do presente e, por isso, podem ser documentos históricos. Eles revelam imaginários e ansiedades das sociedades na forma como elaboram seus medos e traumas. Portanto, ultrapassa o entretenimento. Isso pode ser visto, por exemplo, em filmes mais recentes que se preocupam em retratar pandemias, zumbis e inseguranças globais.

BY: Na sua opinião, por que o gênero está tão desgastado ultimamente?
TV: Acho que o terror anda meio desgastado porque muitos subgêneros já ficaram saturados. A gente já sabe quando vai rolar um susto, já conhece os clichês, então perde um pouco da graça. Com o streaming isso ficou ainda mais evidente. Hoje tem filme de terror saindo toda hora, mas esse excesso acaba cansando. Parece que é sempre a mesma fórmula, só mudam os personagens ou o cenário. Quando surge algo realmente novo, muitas vezes passa batido no meio da enxurrada de lançamentos.
No fim das contas, não é que o gênero não tenha nada de bom acontecendo, mas a sensação geral é de repetição. Por isso o público já não se assusta como antes e sente que falta novidade.

BY: Quais são os seus filmes de terror favoritos e o que faz deles tão marcantes para você?
TV: Meu filme favorito é “O Exorcista”, porque sempre me interessei por histórias centradas na possessão demoníaca. Acho incrível como a fotografia, a trilha sonora e a maquiagem são usadas para causar impacto — até hoje algumas cenas ficam na memória. Tive contato com esse filme ainda na infância (o que não recomendo, rs), e acredito que parte do impacto vem justamente dessa experiência precoce. Mais tarde, já adulta, li o livro, que acabou se tornando também o meu favorito. Gosto da forma como ele traz à tona discussões sobre psiquiatria e medicina, colocando em confronto explicações racionais e interpretações sobrenaturais.
Acho que esse e outros filmes de possessão revelam muito sobre a sociedade: costumo associar o sobrenatural retratado neles a transtornos e problemas psicológicos graves, que muitas vezes as famílias não conseguem enfrentar apenas pelo lado racional, recorrendo então a explicações místicas como uma tentativa de lidar com o medo e a impotência.
Também gosto muito de “Os Outros”, porque foi o primeiro filme com plot twist que assisti. Eu ainda era criança e achei a reviravolta extremamente criativa.
No fim das contas, percebo que meus subgêneros preferidos são mesmo os de sobrenatural, possessão e exorcismo. Talvez seja pelo impacto visual e narrativo que eles proporcionam — e isso é curioso, já que me considero uma pessoa cética.

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Editor Ourinhos Online