Beleza Americana (1999): uma crítica à sociedade estadunidense Por Bruno Yashinishi

Compartilhe

Ah, o sonho americano, cercas brancas impecáveis, grama aparada com precisão cirúrgica, famílias perfeitas sorrindo em jantares silenciosos, e, claro, tudo desmoronando por dentro. Beleza Americana (1999), dirigido por Sam Mendes, é aquele tipo de filme que desfila a decadência da classe média dos EUA com a elegância de um cadáver maquiado. E nós assistimos como se fosse um desfile da alta costura da hipocrisia.

No centro da história, temos Lester Burnham, interpretado por Kevin Spacey, um homem em crise de meia-idade que decide “acordar” da anestesia existencial em que vive, o que, na prática, significa chutar o balde, fumar maconha, abandonar o emprego e fantasiar com a amiga adolescente da filha. Americaníssimo, não? Quando o mundo desaba, o melhor é mesmo dar uma surtada estilosa. É a versão suburbana do existencialismo com um toque de desodorante Axe.

A esposa, Carolyn Burnham, vivida por Annette Bening, é a encarnação do culto à produtividade e à fachada perfeita. Vendedora de imóveis, ela chora em silêncio quando ninguém compra sua “obra-prima” de casa encenada, porque nada diz mais sobre a cultura americana do que chorar em um banheiro revestido de mármore, vestindo tailleur e ouvindo autoajuda no carro. É o capitalismo com rímel borrado.

A filha, Jane Burnham, interpretada por Thora Birch, busca sentido ao lado do vizinho estranho, Ricky Fitts, vivido por Wes Bentley, que filma sacolas plásticas voando e enxerga poesia onde os adultos só veem lixo, o que é praticamente uma alegoria do país inteiro: uma nação obcecada em transformar banalidades em verdades profundas enquanto ignora os escombros ao redor.

E, claro, não podemos esquecer do vizinho militar reprimido, o coronel Frank Fitts, interpretado por Chris Cooper, homofóbico, paranoico, que é a epítome do moralismo tóxico travestido de autoridade. A América ama seus símbolos de poder, mesmo que estejam desmoronando por dentro, como tudo mais nesse roteiro.

Beleza Americana é uma daquelas obras que esfregam o absurdo com uma paleta bonita, música tocante e diálogos que soam como tapas com luva de veludo. Mendes e o roteirista Alan Ball não estão só criticando a sociedade americana, estão rindo, com uma taça de vinho na mão, enquanto tudo pega fogo ao fundo.

É quase profético: vinte e cinco anos depois, o vazio emocional, a busca por sentido via consumo e a desconexão humana seguem mais vivos do que nunca. A diferença é que agora temos redes sociais para compartilhar nossa angústia em alta resolução.

No fim das contas, Beleza Americana é um espelho desconfortável, e o mais irônico? É que muitos o assistiram encantados com a estética, e perderam completamente a crítica. O sonho americano nunca foi tão bem embalado para presente. Só esqueceram de avisar que, por dentro, só vinha ar.

Apoie o Ourinhos.Online⬇️
https://apoia.se/ourinhosonline

Editor Ourinhos Online