POR QUE LER AINDA É IMPORTANTE? Por – Luiz Eduardo de Lima
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No final de 2024, a 6ª Edição da Pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” apontou que, pela primeira vez, o número de não leitores é maior do que o de leitores no Brasil. De acordo com a pesquisa, 53% dos brasileiros entrevistados afirmaram não terem lido nem, ao menos, parte de um livro nos últimos três meses. Para piorar, se considerarmos apenas a leitura de livros completos, o número de leitores cai para 27%.
Os números são alarmantes, visto que a leitura é o principal instrumento de divulgação científica e de conscientização, seja política, seja humana. Com o advento da internet e a popularização das redes sociais, as pessoas vêm deixando de se informar pelos livros, jornais ou revistas e passaram a se valer do que a internet propaga como verdade, inclusive como verdade científica. Os reflexos desse cenário podemos ver nas ondas de fake news e de desinformação nas últimas eleições presidenciais e na Pandemia da Covid-19. Vídeos curtos tomaram as telas dos celulares dos brasileiros que, ao invés de procurarem pela veracidade da informação, apenas compartilharam ainda mais as mensagens falsas.
Este tempo de não leitores é propício para os mal intencionados se valerem de discursos charlatões para promoverem seus próprios interesses. Interesses estes que, na maioria das vezes, vão contra os de quem está compartilhando a mensagem. Mas para além de se informar, por que a leitura é tão importante?
Tenho para mim que, entre tantas coisas boas que a leitura é capaz de nos proporcionar, a principal delas é a empatia, presente nas diversas histórias e realidades que podemos conhecer através dos livros. Além disso, muitas vezes pela escrita do outro conseguimos entender melhor a nossa própria realidade. Certa vez, em uma entrevista para a revista LIFE, o escritor estadunidense James Baldwin disse: “Você acha que sua dor e seu coração partido não têm precedentes na história do mundo, mas depois você lê”. De acordo com Baldwin, foram leituras de obras de Dostoiévski e Charles Dickens que lhe ensinaram que as coisas que mais o atormentavam eram exatamente as mesmas coisas que o conectavam com todas as pessoas que estavam vivas. E a leitura tem mesmo este super-poder: ela nos conecta.
Além disso, a linguagem escrita é carregada de uma reflexão que muitas vezes falta à oral. É como se as palavras passassem por um processo de maturação até serem combinadas para a transmissão da mensagem. Os livros (ou pelo menos, a maioria deles) passam por um processo de reflexão do seu autor e, portanto, as palavras não são escolhidas ao acaso. E no processo de leitura, este mesmo processo acontece: nosso tempo de reflexão enquanto lemos é mais lento, mais calmo e, por isso, mais profundo. Por meio da leitura conseguimos sair da superfície e da superficialidade.
Mas ler também deve ser algo divertido. Para a escritora Andrea Ramal, em entrevista ao programa “Sem Censura” exibido pela TV Brasil, não devemos ler apenas porque é importante ler, mas também porque a leitura nos traz prazer, nos permite conhecer outros mundos, nos permite pensar em outras realidades. Podemos viajar sem sair do lugar através dos livros. E isso é incrível.
Ler nos permite conhecer outros mundos, outras realidades, outras dimensões, outras formas de viver e nos conecta com o próximo. Mas, em tempos de inteligência artificial e vidas superficiais sendo expostas o tempo todo na internet, ler também é fundamental para não sermos marionetes nas mãos de grandes corporações, que querem, a todo custo, nos transformar em instrumentos de padronização e reprodução de ideais que as beneficiem.
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