A Mulher no Jardim (2025): o luto é pelo cinema de horror contemporâneo – Por Bruno Yashinishi

Em A Mulher no Jardim, a dor do luto é o ponto de partida para uma narrativa que tenta ser psicológica, simbólica e aterrorizante — mas que infelizmente cai na vala comum do terror contemporâneo: promessas de originalidade que se dissolvem em fórmulas já desgastadas.

Dirigido por Jaume Collet-Serra, o filme acompanha Ramona (Danielle Deadwyler), uma mãe que, após perder o marido em um acidente, se muda para o campo com os filhos e passa a ser assombrada por uma figura feminina misteriosa que aparece no jardim da casa. Apesar da premissa interessante, o longa se arrasta entre sustos previsíveis, diálogos genéricos e uma narrativa que prefere insinuar do que realmente desenvolver.
Mais preocupante do que a fraqueza específica de A Mulher no Jardim é a constatação de que esse tipo de produção já virou norma no gênero. O terror contemporâneo parece satisfeito em mascarar a falta de substância com uma estética polida e temas “profundos”, como luto, trauma e maternidade — como se o simples fato de abordar esses tópicos garantisse complexidade. Mas não garante.
Basta lembrar o que o cinema de horror já foi capaz de fazer: O Bebê de Rosemary (1968) transformou a paranoia urbana em puro horror existencial, com uma narrativa sutil, mas profundamente perturbadora. O Exorcista (1973) provocou pânico real ao explorar o embate entre fé e desespero com uma crueza inimitável. E O Massacre da Serra Elétrica (1974), com sua estética crua e brutal, segue sendo um dos filmes mais inquietantes já feitos — não por efeitos visuais sofisticados ou alegorias fáceis, mas pela sua autenticidade brutal e atmosfera sufocante.
Comparado a esses marcos, A Mulher no Jardim parece um produto domesticado: sem coragem para o grotesco, sem ousadia narrativa, e sobretudo, sem a pulsão criativa que movia o horror de outrora. Danielle Deadwyler entrega uma atuação digna, mas seu talento é desperdiçado em um roteiro que confunde mistério com falta de direção.
Se há luto neste filme, ele não é apenas da protagonista. É também nosso, espectadores órfãos de um horror que sabia onde queria chegar — e que não tinha medo de nos levar até lá. Hoje, o que vemos são filmes que se limitam a tocar temas profundos sem mergulhar neles. E no fim, o maior susto é perceber o quão vazio o gênero se tornou.

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Editor Ourinhos Online