Brasileiros descobrem bactéria que aumenta produção de biocombustíveis

Pesquisa revela enzima que usa cobre para acelerar a quebra da celulose em resíduos agrícolas

Pesquisadores brasileiros identificaram uma nova enzima capaz de aumentar a produção de biocombustíveis a partir de resíduos agrícolas. A descoberta veio de uma bactéria encontrada no solo de cultivos de cana-de-açúcar, que produz uma enzima com partículas de cobre. Essa enzima acelera a quebra da celulose, principal componente dos vegetais, facilitando a transformação de resíduos em biocombustíveis, papel e tecidos.

A bactéria, batizada de Candidatus Telluricellulosum braziliensis, pertence a um grupo de microrganismos que nunca havia sido cultivado em laboratório. A pesquisa foi conduzida por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), em parceria com a USP e outras instituições internacionais, e foi publicada na revista científica Nature.

Desvendando a “matéria escura” do DNA

A enzima descoberta, chamada CelOCE, atua de forma diferente das enzimas tradicionais que quebram a celulose. Enquanto as enzimas comuns cortam a celulose em glicose, a CelOCE age como uma chave, abrindo estruturas que facilitam a ação de outras enzimas. Segundo o pesquisador Mario Murakami, do CNPEM, a CelOCE pode aumentar em mais de 20% a eficiência do processo em comparação com as enzimas atuais.

A equipe usou tecnologias avançadas, como a Ressonância Paramagnética Eletrônica, para analisar a estrutura da enzima e entender como o cobre participa do processo de quebra das moléculas. “Identificar o papel do cobre foi essencial para compreendermos como essa enzima funciona e como pode ser aplicada em larga escala”, explica o professor Antônio José da Costa Filho, da USP em Ribeirão Preto.

Avanço para a indústria de biocombustíveis

A descoberta tem potencial para transformar a produção de biocombustíveis e outros bioprodutos. Ao facilitar a extração de açúcares dos resíduos vegetais, a enzima torna o processo mais rápido, eficiente e econômico.

Murakami destaca que essa pesquisa é resultado de um esforço para explorar a biodiversidade do solo brasileiro e aplicar esses conhecimentos em tecnologias sustentáveis. “Estamos apenas começando a explorar esse mundo oculto de informações genéticas, e as possibilidades são enormes para a bioindústria”, afirma o pesquisador.

O estudo contou com a participação de instituições brasileiras e internacionais, mas todos os experimentos foram realizados no Brasil. Os pesquisadores acreditam que essa nova abordagem pode beneficiar setores como energia, agricultura e saúde, reforçando o papel do Brasil como líder em inovação biotecnológica.

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Editor Ourinhos Online